Entrevista SAS Dia 01 com Leonardo Furtado

23.11.15


1.            Com que idade você começou a desenhar?
R.: Desde criança todos nós desenhamos, a vontade de expressar em alguma superfície vem antes de surgir nosso dente-de-leite, a questão é que após dominarmos o básico da nossa língua e escrita a maioria pára de imprimir suas ideias no papel.  Eu continuei, e meu interesse por desenho cresceu a medida da inquietude com meus próprios resultados. Foi aí que resolvi estudar, ingressar em um curso de desenho, aos 13 anos. O curso era de desenho básico na Fábrica de Quadrinhos, em SP. Tive muita sorte de meu primeiro professor ser o Alexandre Jubran. Daí em diante não parei mais de estudar.


2.            O quê te inspira a desenhar e pintar?
R.: Antes eu não sabia, via um filme, desenho animado, lia algum livro ou via alguma imagem e isso já era suficiente para um intento artístico. Hoje percebo que o que me instiga é a liberdade do ato, finalizar projetos que boto em mente e colocar em prática o aprendizado constante.


3.            O quê você acha de temas nacionais e regionais para quadrinhos?
R.: Prezo a liberdade total em contar quaisquer tipo de estória que quiser, regional ou não, exercer a imaginação, ter a oportunidade de pesquisar os mais variados temas e ser fiel e acreditar no seu projeto.  Veja por exemplo os filmes do cineasta Sergio Leone, ele é italiano, e filmou os melhores westerns já realizados até hoje. Nunca houveram cowboys na sicília. Nós brasileiros temos a pluralidade étnica a nosso favor, e devemos utilizar essa vantagem histórica . Nossa cultura é rica demais, e contá-la e recontá-la sempre irá nos fazer lembrar quem somos e de onde viemos. Que o mundo inteiro saiba disso.


4.            Qual o trabalho que você fez que mais lhe inspirou?
R.: O foco sempre está no projeto atual. O encanto também se encontra nos erros, acho que o trabalho que mais me inspirou ainda está por vir! Quanto a inspiração novamente, ah, devo tomar cuidado com ela. Aprendi a não depender de inspiração para trabalhar. Minha arte paga minhas contas, não posso me dar o luxo de não produzir só porque a inspiração não vem.


5.            Como foi sua pesquisa para fazer o quadrinho Abaité Bandeirantes?
R.: O roteiro foi escrito pelo Richard Dantas, que me enviou muito material para estudar, entre eles, os primeiros capítulos de "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro. Como fiquei incumbido em resolver a estética do projeto, necessitava entender como resolver o figurino bandeirante, como funcionam suas armas e definir um visual para a tribo. Mergulhando nas ilustrações de Debret, nos livros de história, em filmes e séries sobre o tema, novas imagens e palavras surgiram para complementar o vocabulário estético, gibão, polvorinho, bacamarte, arcabuz, etc.


6.            Como foi o seu desenvolvimento no mundo das artes?
R.: Se desenvolveu nos estudos, dos cursos até a faculdade. E para pagá-los, tinha que trabalhar duro.
Fiz de tudo para ter empregos onde poderia exercer meu traço, desde uma companhia onde elaborava desenhos para bordados, desenhando em estúdio de tatuagem, estampa para camisetas, graffiti em portas de loja, ilustrações para veículos impressos, vinhetas, desenhos animados para o público infantil, criação de personagens, storyboard, quadrinhos, telas sob encomenda...Sempre me virando com o que me aparecia. Esses trabalhos foram me forjando, me forçando a ser um artista versátil e conquistar independência para projeções futuras.


7.            Gosta de pintar ao ar livre? O quê aconselha aos desenhistas e pintores sobre isso?
R.: O live painting e graffiti fazem parte de outro complemento que se faz necessário quando um artista se sente pronto para mostrar sua arte para o mundo. Não basta postar fotos do seu trabalho no ateliê, é preciso dar as caras e ter coragem para encarar o crivo seletivo do público. Antes, no ínicio, eu escondia meu trabalho das pessoas por achar que não estava pronto. E eu tinha razão, um marinheiro não se joga a mar aberto sem entender o comportamento das águas.


8.            Como o Graffiti marcou sua vida?
R.: Não me considero um grafiteiro, pois a maioria das minhas pinturas nos muros são indoor, e geralmente comerciais. O suporte vertical e sua enorme dimensão comparados as telas e papéis marcaram um novo jeito de pintar. Recomendo a todos que gostam de desenhar começar pintando muros de sua própria casa ou de amigos e parentes.


9.            Tem algum projeto pessoal em andamento?
R.: Tem sim. Ando criando temas para exposições em bares, restaurantes e casas noturnas. Um desses temas é a mística que existe sobre as lendas e folclores que circundam o imaginário popular da ilha de Florianópolis.


10.          Deixe uma mensagem para os estudantes de desenho e animação:
R.: Não desistam do sonho de viverem a vida que quiserem, se unam em coletivos, organizem suas próprias feiras e exposições, não tenham receio de fazer trabalhos comerciais até atingirem um objetivo estético. E não deixem de se divertir durante o processo criativo! 

Um grande abraço, colegas!




 
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